O gosto por vinhos e pela geografia fez com que meu “instinto desbravador” buscasse experimentar vinhos de diversos locais do Brasil e do Mundo.
Um dos países que me intrigou, nessa “jornada” foi a África do Sul. Pensei: “que diabo de vinho fazem lá na junção dos oceanos Atlântico e Índico?”. Preconceito? Falta de divulgação? Um pouco de cada.
A vinicultura na África do Sul iniciou no século XVII, quando as primeiras mudas que chegaram à região, provenientes da Europa, trazidas pela Companhia Holandesa das Índias Orientais, para consumo próprio e para abastecer os navios a caminho das Índias; o que faz do País a mais antiga das regiões produtoras do Novo Mundo. Em menos de cem anos, já contava com um vinho de grande reputação: o vinho de Constantia, um branco doce à base de Muscat, que chegou a ser o vinho doce mais famoso do mundo.
Nos 200 anos seguintes houve uma grande “invasão” de imigrantes, tornando a região grande produtora de vinho; tanto em variedade como em quantidade. Essa produção em massa e a falta de um cuidado maior tiveram como conseqüência a baixa qualidade da maioria dos vinhos.
No século XX, o apartheid atrasou a produção vinícola do país. O isolamento comercial, imposto pela ONU fez com que os vinhos sul-africanos ficassem esquecidos. Com o fim do regime e do isolamento econômico, os vinhos retornaram ao mercado internacional na década de 90, porém, sem uma boa imagem, marcas desconhecidas e preços extremamente baixos.
Todavia, com investimentos em tecnologia e formação de enólogos, o produto vem se adequando às exigências do mercado mundial, num salto qualitativo e quantitativo. Outro aspecto importante para a ascensão do vinho sul-africano, está na criação de uma identidade nacional para o produto. Não há mais preocupação em copiar estilo de outros países.
As melhores vinícolas são:REGIÃO DE CONSTANTIA (zona urbana da Cidade do Cabo)
Buitenverwachting – Produz o Christine (blend), Cabernet Sauvignon, Sauvignon Blanc, Chardonnay e Merlot.
Klein Constantia – Produz o Sauvignon Blanc, Chardonnay, Semillion, W. Riesling, Cabernet S., Shiraz, Pinot Noir, Marlbrook (blend). Todavia, a vinícola ficou famosa por produzir o legendário Vin de Constance, um vinho de sobremesa que segundo a publicação francesa Les Plus Grands Crus du Monde está entre os 44 grandes rótulos do Mundo.
REGIÃO DE STELLENBOSCH (concentra as melhores vinícolas do país)
Warwick - Especializada em Pinotage, Cabernet Franc, Trilogy(blend) e Cabernet Sauvignon.
Thelema - Um dos melhores exemplares de Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay e Sauvignon Blanc são produzidos nesta vinícola.
Grangehurst - Em apenas seis colheitas dessa "wine-boutique", produziu em 93 um dos poucos vinhos a receber cinco estrelas dos críticos locais. Produz o Cabernet-Merlot blend. Cabernet Sauvignon, Pinotage e Cabernet-Merlot blend.
Stellenzicht - Em 94 ele produziu um shiraz (Syrah 94). O vinho no exterior bateu os melhores shirazes australianos e franceses. Era vendido a US$30,00 a taça no hotel Waldorf-Astoria, em Nova Iorque!
Kanonkop - O Cabernet e o Paul Sauer (blend) são os vinhos produzidos nessa vinícola.
Vergelegen - É das adegas mais modernas do país. Apesar das vinhas ainda jovens, tem produzido Sauvignon Blanc, Chardonnay e Merlot de alta qualidade. Lievland – produz um excelente Shiraz e DVB (blend). O segundo rótulo da vinícola Lievlander recebeu um cinco estrelas da Decanter numa competição onde mais de 100 cabernet e cabernet blend sul-africanos participaram em Londres.
Mulderbosch – produz dos mais consistentes Sauvignon Blanc e Chardonnay do pais.
Meerlust - Produz um Merlot de primeira classe, Rubicon (blend), Pinot Noir e em 97 o primeiro Chardonnay da vinícola após 10 anos de experiência interna.
REGIÃO DE PAARL
Backsberg - Conhecida pela versatilidade, alta qualidade e baixos preços dos vinhos. Se sobressaem o Cabernet Sauvignon, Shiraz, Klein Babylonstoren (blend), Chardonnay e Chenin Blanc. Também produz excelente "brandy".
Fairview - Cria diversos estilos diferentes de vinhos. Bom vinho, ótimo preço. Chardonnay, Merlot e Shiraz se destacam.
Glen Carlou - Especializada no Grande Classique (blend), Chardonnay e Pinot Noir. Deu uma nova dimensão ao Chenin Blanc sul-africano nos últimos anos.
Veenwouden - Tem batido recorde de consistência. A vinícola produz Merlot, Veenwouden Classique (blend) e o segundo rotulo Vivat Bacchus.
REGIÃO DO OVERBERG (a melhor região do país em termos de condições climáticas)
Hamilton Russel e Bouchard Fynlaisson - Duas vinícolas que produzem os melhores Pinot Noir da África do Sul. O Chardonnay é outra cepa de qualidade nessas duas vinícolas.
A África do Sul também produz excelente “Sherry” e Vinho do Porto, que vêm sofrendo muita pressão do Mercado Comum Europeu para omitir os nomes “Sherry” e “Port” de seus rótulos. Seguindo o exemplo do Champagne, que na África do Sul é chamado de Methode Cap Classique ou “Sparkling Wine”.
Uma dica de vinho sul-africano de boa qualidade e que não é difícil de ser encontrado é o AVONDALE. Um assemblage (54% cabernet sauvignon, 22% merlot, 15% cabernet franc, 9% cabernet ruby), safra 2002. Encorpado, equilibrado, de bouquet e sabor notáveis e marcantes. Seu preço está em torno de R$50,00 a garrafa. Vale à pena.
Outro vinho sul-africano, para quem está com um orçamento um pouco mais apertado, mas que é interessante conhecer, é o TRIBAL. Um tinto, safra 2003; equilibrado, pouco adstringente, perfume agradável. Não "faz feio". R$20,00 a garrafa.
Portanto, desfeito o preconceito e falta de informação, agora o que nos resta “infelizmente” degustarmos os vinhos da África do Sul. Ao trabalho!